Eu sempre gostei de ler. Uma de minhas maiores alegrias e uma lembrança que guardo fortemente até hoje, foi o dia, o momento, o ano, sei lá, o tempo em que aprendi a ler. Antes disso a vida era uma coisa e depois transformou-se num vasto mundo a ser explorado. Antes disso eu tinha que pedir a minha mãe que lesse para mim. Não me lembro do meu pai lendo pra mim. Lembro-me dele jogando futebol de botão comigo, mas lendo não. A minha mãe lia, mas, é claro, só quando ela queria, tinha saco ou sobrava tempo no meio ou depois das tarefas caseiras. Naquele tempo minha mãe era “do lar”. Então, recordo que foi uma felicidade extraordinária quando comecei a juntar aquele monte de letrinhas e formar palavras e fiquei livre para ler o que eu quisesse. E lia de tudo mesmo. Desde as revistinhas em quadrinhos infantis, gibis, contos de fada, a revista Manchete, Fatos & Fotos, Realidade e as fotonovelas da minha mãe. Era muito bom poder ler. Até hoje leio bastante. Não tanto quanto gostaria, mas bastante. A leitura sempre me enviou para um espaço mágico onde era possível que a minha imaginação se expandisse e se elevasse às alturas. A leitura estimulava meus sonhos e minhas ações pela vida. Ler sempre foi e é maravilhoso. Há pouco tempo atrás, com mais ou menos quarenta e cinco anos, comecei a sentir dificuldade para ler. Não havia luz que fosse suficiente para que meus olhos conseguissem ler. Ler tornou-se um esforço. A dificuldade roubava o prazer da leitura. Então, uma alma amiga, chamada Elisa, mais ou menos da minha idade e conhecedora do problema, um certo dia, me ofereceu um par de óculos comprados num camelô e salvou a minha vida. Pude voltar a ler na quantidade e com o prazer de sempre. Ler é maravilhoso. Meus filhos não lêem. Não porque eu não tenha tentado estimula-los, mas não gostam. Não adquiriram o gosto pela leitura. Acho que a escola destrói nos adolescentes o prazer de ler. Não há prazer que resista aquelas leituras obrigatórias e as fichas de leitura exigidas pelos professores. É uma merda. É empobrecedor.
Só pra constar: quem está na foto sou eu, aos 21 anos, mais precisamente em fevereiro de 1975, no patamar da casa da minha tia Glacy, em Ibirubá/RS. Seu marido, a quem eu chamava de tio Adalberto, tinha insônia, lia muito e possuía uma considerável biblioteca da qual eu me aproveitava quando os visitava.