sexta-feira, 19 de setembro de 2008

MEMÓRIAS MEDÍOCRES 1 - FREIRA DO DEMÔNIO

Dia desses decidi que iria escrever uma hora por dia. Ou pelo menos uma hora por semana. Sessenta minutos inteiros escrevendo tudo aquilo que me viesse a cabeça. Decidi também, que pra não correr o risco de ficar com cara de idiota na frente da folha em branco da tela do Word, vou escrever qualquer merda. Qualquer merda qualquer. Escrever livremente, sem censura, mesmo se tratando de qualquer merda ou de uma merda qualquer.
Aí pintou a brilhante idéia de escrever sobre mim mesmo, coisa que ninguém, é obvio, jamais, pensou nem, mais óbvio ainda, fará. Posso escrever minhas memórias. As lembranças vadias de um sujeito absolutamente comum e medíocre com lembranças incrivelmente medíocres e comuns. Para dar um sabor especial, um condimento apimentado, poderia inventar alguns fatos, mentir um pouco, o quê não seria novidade para mim e, tampouco, eu seria o primeiro a fazer isso.
Então, está decidido: serão memórias verídicas e fantasiosas. Cheias de pequenas e grandes mentiras misturadas com fatos acontecidos e lances vividos pela minha inigualável pessoa. Será, assim, uma autobiografia sem compromisso nenhum com a verdade e entremeada de fantasias, desejos não realizados e mentiras que não serão jamais reconhecidas e separadas das verdades contidas no texto, principalmente porque ninguém se daria ao trabalho de fazer isso.
Não resisto ao desejo e caio no lugar comum de afirmar que se é para escrever sobre qualquer merda, nada melhor do que escrever sobre mim mesmo. E isso acontece por vários motivos. Em primeiro lugar, porque ninguém como me conhece como eu me conheço, e só eu conheço todas as merdas que já fiz na minha vida. Depois, somente eu posso misturar as merdas verdades das mentiras merdas que irei inventar ao longo do texto. E, finalmente, porque inúmeras vezes eu realmente me acho um merda.
Ainda não fechou uma hora então vou continuar escrevendo.
Queria lembrar que estou escrevendo algumas outras trinta e sete coisas que são fragmentos, pedaços inícios de alguma coisa ou de nada, coisas de teatro, livros parados pela metade ou muito antes, porcarias em geral que geralmente começo e não termino, ou melhor, começo e nem começo. Só digo para lembrar que posso aproveitar esta uma hora também para escrever um pouco nestas outras coisas e não somente aqui neste meu blog.
Às vezes este espaço poderá funcionar também como um diário onde anotarei preciosos acontecimentos de meu agitado cotidiano.
Agora chega de papo e vamos as memórias. Aquele que, porventura, transformar-se em leitor acidental destas páginas, não deve ficar procurando o que é verdade e o que pode ser mentira. Leia e aceite os fatos como acontecidos porque você nunca poderá separar uma coisa da outra. Ou, se quiser detenha-se, procure, afinal de contas a verdade e a mentira são sempre o verso e reverso da mesma moeda, ou como dizia Mário Quintana: “a mentira é uma verdade que esqueceu-se de acontecer”. Buenas, vamos lá.
A foto que aparece lá em cima é da minha turma do quarto ano primário - quarta série do ensino fundamental - no Colégio Anchieta que naquela época tinha freiras e padres dando aula. Agora eu fico imaginando coisas feias aqui na minha cabeça. A freira que aparece na foto é a Irmã Maria da Graça. Acho que todas as freiras se chamam Maria alguma coisa. Pois esta santa pessoa, insígne professora, tinha o sádico hábito de torcer o mamilo dos alunos quando estes faziam alguma coisa que a desagradava. Como por exemplo, descer escadas saltando de três em três degraus, comer alguma coisa durante a aula, ou qualquer coisa que fosse coisa de crianças de nove ou dez anos que era a nossa idade na foto.

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