sábado, 20 de setembro de 2008

MEMÓRIAS MEDÍOCRES 2 - COMIDA DE POBRE

Outro dia fui num restaurante que servia comida típica gaúcha e havia lá uma gororoba que era uma fritada de ovos mexidos com lingüiça campeira picada e tudo revirado com farinha de mandioca. Isso me remeteu imediatamente para a mesa da minha infância, lá na minha casa de madeira envelhecida pelo tempo no Jardim Botânico. A casa era tão desbotada que era chamada de “casa Lee”. Foi um túnel do tempo. Enquanto me servia fui regredindo. Minha mãe com um dos seus vestidos estampados de senhora casada, dona de casa, quase sempre com uma cara de madalena arrependida e um ar de juvenista mariana, na lida diária pela cozinha e eu brincando no pátio quase sempre sozinho ou algumas vezes com algum amiguinho e logo o grito da minha mãe, de várias mães, chamando para o almoço. Depois de cumprir as obrigações do tipo lavar as mãos, acordar meu pai que roncava feito um porco como sempre até a hora do almoço, e sentar à mesa. E lá estava a tal fritada de ovos com lingüiça e farinha de mandioca.
Nossa! Como eu gostava daquela comida. Daquela e de muitas outras coisas que minha mãe fazia naquela época. Mas o que mais me divertia mesmo era de brincar com a comida. Eu dividia a porção contida no prato em quatro partes. Ficava então quatro pequenos triângulos, separados por uma trilha em cruz. Feito isso estas quatro partes transformavam-se, às vezes, em quatro países em guerra (era quando os gomos de bergamota ou de laranja serviam de navios de guerra e cercavam o prato com seus canhões apontados para o país do arroz com feijão), às vezes, em quatro povos que primeiro se reuniam e logo a seguir eram engolidos por um enorme e guloso monstro que os triturava sem complacência. Enfim, naquele tempo eu que eu não tinha tanta pressa, comer era sempre muito divertido.

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