domingo, 14 de junho de 2009

MEMÓRIAS MEDÍOCRES 8 - A GONORRÉIA

No meu bairro, o Jardim Botânico, tinha um puto. quer dizer, devia ter mais, mas apenas um era assumidamente gay. Somente sua mãe não sabia. Em casa roncava grosso, falava que nem homem. Morava ele e a mãe, uma senhora de idade avançada. No fundo, ela devia saber, mas compactuava com ele. Seu nome era Luís Fernando, mas a gente o chamava de Lulu. Ele sempre contava em noite de lua cheia transformava-se em mulher e saía pelo bairro, de casa em casa, pela noite inteira, dando pra todos os homens que queria enquanto suas esposas roncavam.
Pois, certa vez, alguém da minha turma convenceu o Lulu a dar pra nós. Fizemos uma vaquinha, raspamos nossos cofrinhos, e fomos para o parque Jardim Botânico esperar pelo Lulu. Éramos mais ou menos seis. O mais velho devia ter treze anos. Eu tinha 12 anos e era minha primeira vez. a primeira vez que participava de uma expedição deste gênero no meio do mato do Jardim Botânico. Atravessamos o mato, os maricás, as arueiras coceirentas. Chegamos na clareira combinada. Na hora marcada chegou o Lulu e atendeu com prazer a cada um de nós. Sei que não fui o último, mas não lembro qual foi a ordem. O primeiro foi o Pardal, apelido do Paulinho, filho adotivo da dona Filhinha e do seu Lotário. Foi o primeiro porque fora ele quem acertara tudo.

Dois dias depois chegou a febre, a ardência no pau. No terceiro dia começou a pingar um corrimento que lembrava pus. Não sabia o que fazer. Não podia contar pros meus pais. Seria o fim do mundo. Provavemente eu levaria uma surra do meu pai. No quinto dia eu não tinha mais como esconder. Não suportava mais a dor pra urinar e a situação cada vez piorava mais. no sexto dia contei pra minha mãe. Passado o primeiro momento de recriminações até que ela reebeu bem. O escândalo foi pequeno. O segundo momento foi religioso. Fui tentado pelo demônio e deus me castigou. Eu deveria me confessar no domingo. Teríamos que contar pro meu pai, pois somente ele saberia o que fazer. Mais uma dose de vergonha e medo. Eu contei tudo enquanto minha mãe fazia comentários para amenizar a situação. Tive que mostrar o pau pro meu pai. Momento difícil. Eram outros tempos. Estamos falando de 1966.

Levaram ao médico que receitou tetrex. Acho que é uma penicilina. Remédio pra febre e um negócio pra lavar o negócio. Foi passando. Aliviando geral.

Passada a crise, curada a gonorréia, meu pai me chamou pra saiar com ele. Me levou até a frente de um cabaré de terceira classe que tinha no centro da cidade, acho que perto da Praça da Alfândega. Me deu uma grana e disse que de agora em diante quando eu sentisse necessidade de fazer o que havia feito, eu devia fazer com mulheres e então devia procurar mulheres nesta casa. Deu sua moral de cueca e foi embora me deixando ali, parado, apavorado. Dei um tempo, fui no cinema e depois voltei pra casa.
Na foto, estamos eu e o Pablo, na Praia do Rosa. Mais ou menos, 1991. Estou ensinando-o a pilotar a moto. ele tinha mais ou menos a mesma idade que eu quando peguei a tal gonorréia.

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